Minha vida em cor-de-rosa - Uma abordagem sociológica
Gênero: Drama; Comédia
Duração: 88 minutos
Ano: 1988
Cine-repórter: Aline Farias
O filme começa com Ludovic, aos sete anos, vestindo-se de menina e apresentando-se como tal em uma festa de boas vindas promovida por seus pais, que tinham acabado de se mudar para um novo bairro. O mal-estar é inevitável. Apesar de todos buscarem agir naturalmente, a má impressão prevalece e os insultos à criança se iniciam depois desse episódio.
O pai de Ludovic, diante da situação acima descrita, já demonstra grande preocupação com o que os outros pensarão de seu filho e tenta reverter essa situação dizendo ser o menino "ótimo em disfarces", apesar de saber que não era a primeira vez que aquilo acontecia. Isso demonstra a grande dificuldade que existe em aceitar tudo que é diferente em uma esfera social marcada por uma moral cristalizada, onde o novo é rejeitado e os costumes se impõem diante das mais simples circunstâncias.
A família não sabe como proceder diante do comportamento estranho do filho e oscila entre respeitar suas "fantasias pueris" e forçar-lhe uma mudança de atitude. Somente a avó parece posicionar-se com clareza a favor da liberdade de expressão do menino, afirmando que um dia ele entenderá que é homem e não mais terá vontade de agir diferentemente.
O fato é que por mais que os pais tentem compreender o filho e respeitar-lhe as decisões, a pressão social não permite que isto aconteça. A mãe do garoto inúmeras vezes procura educá-lo segundo suas convicções, deixando que ele seja livre e tome decisões independentes, mas todo seu esforço é perdido quando o "ser social" mostra sua superioridade e coage-a, de forma que ela se sente obrigada a ir contra seus princípios e educar o filho da maneira aceita por todos. Caso contrário, a criança continuaria passando por constrangimentos cada vez maiores, a humilhação pioraria e a família seria, gradativamente, excluída por aqueles com as quais convivia, como acabou acontecendo.
Ludovic refugia-se em um mundo imaginário onde tudo aquilo que ele deseja e considera absolutamente natural está a sua inteira disposição. Em seus momentos introspectivos tudo é cor-de-rosa, veste-se de menina, idealiza um casamento com um vizinho de sua mesma idade e tem como companheira constante uma boneca que lhe oferece proteção.
O "menino-menina", como Ludovic se reconhece, parece tentar conter seus desejos satisfazendo-os mentalmente,
já que é tão recriminado pelos que o rodeiam. Seu sofrimento é o maior possível, pois se sente discriminado pelas instituições que o cercam: a família e a escola.A polêmica da sexualidade, especialmente no que se refere à mudança de gênero, não é um fator de influência apenas pessoal, envolve também questões políticas e sociais. São várias gerações de pensamentos, cultura e organização fixas. Não pode ser, portanto, facilmente alterada.
O momento no qual Ludovic e seu amigo de bairro são flagrados dramatizando o casamento deles mostra o quão consolidados são os valores morais de sua sociedade. A mãe do colega de Ludovic desmaia no instante em que vê a cena e, após o ocorrido, o protagonista é motivo de opróbrio em toda sua escola. Até o amigo de bairro que tinha se disposto a "casar" com ele no dia anterior evita sua companhia com medo de ir para o inferno.
Quando a situação passa a ser entendida por seus pais como algo verdadeiramente preocupante, o menino é encaminhado a uma psicóloga. Todas as tentativas de mudar as idéias dele, contudo, falham. A situação se agrava. A rejeição da vizinhança começa a se estender à família e a qualquer um que ouse aproximar-se de um garoto com evidências tão latentes de homossexualismo.
O problema toma maiores proporções quando, no teatro do colégio, Ludovic tenta passar-se por Branca de Neve e ganhar um beijo do colega pelo qual, desde o início da narrativa, demonstra atração e com quem sonha casar-se. Ao ser retirado um véu que escondia seu rosto, todos vêem a farsa. Os pais dos demais alunos, indignados, passam a fazer freqüentes reclamações no colégio, pois não querem seus filhos convivendo com o mau exemplo que representa o garoto afeminado. Depois de um documento assinado por todos os pais, ele é obrigado a deixar a escola.
Nesse ponto, já é possível observar o poder de uma coerção social. Por mais que houvesse opiniões divergentes, como a da professora de Ludovic, que consegue entender e respeitar as diferenças, o que prevalece é a síntese dos pensamentos de uma maioria, ou seja, a opinião própria do "ser social".
As humilhações se intensificam a um nível insuportável. O menino passa por uma fase de profunda confusão mental. Tenta ,algumas vezes, com insucesso, agir virilmente. Busca conforto no seu mundo róseo particular, mas nada consegue fazer com que perca a idéia de que é uma garota no corpo errado.
É comovente a cena na qual, após Ludovic desaparecer por algum tempo, sua mãe o encontra em posição de morto, abraçado a um crucifixo, como se estar sem vida fosse seu desejo naquele instante
. O menino rende-se ao que parece ser o melhor para todos, tenta desistir da vida. O fato de um menino de apenas sete anos pensar no suicídio é muito relevante. Mostra, com clareza, o quão coagido estava para alterar seu comportamento. Não consegue, por isso vislumbra a solução através da morte.Depois da evidente demonstração de desespero de Ludovic, seus pais, aconselhados pela avó, deixam o menino ir para a festinha de aniversário de uma vizinha vestido de saia, mesmo não tendo sequer sido convidados. A estupefação é geral. Apesar de todos hipocritamente aparentarem achar tudo absolutamente compreensível, as conseqüências são as piores possíveis.
A sociedade encontra seu meio de punição. O pai do garoto perde o emprego, a família começa a passar por muitas dificuldades financeiras e o escárnio promovido pela vizinhança é tão devastador que os Fabre não têm mais condições de permanecer naquele bairro.
A mãe de Ludovic, em uma cena inicialmente confusa, beija a boca de um de seus vizinhos, que, apesar de estupefato, não consegue esconder seu contentamento. A mulher parece querer provar que ele, assim como Ludovic, também tem desejos proibidos, não os realizando com medo da reação do meio social, mas nem por isso deixa de tê-los.
No desenrolar dos acontecimentos, o "menino-menina" acaba indo morar algum tempo na casa da avó, por não suportar mais os constrangimentos que passa todos os dias. Ser obrigado a cortar seu cabelo é um dos golpes mais cruéis de repressão pelo qual passa. Finalmente, seu pai consegue um emprego em uma cidade distante e o menino decide ficar com sua família nessa mudança.
O “ser social” mostra de uma vez por todas sua superioridade, fazendo com que os Fabre, não adaptados às regras de conduta moral, tenham que se deslocar em condições financeiras inferiores e com sua organização interna profundamente abalada, sendo Ludovic constantemente culpado por tudo aquilo que enfrentavam.
Quando a família se muda para outra cidade, os pais do menino encontram uma situação semelhante à deles, na qual uma garotinha, embora tenha comportamento masculino, é tratada com naturalidade. A mãe de Ludovic parece finalmente voltar a enxergar o quão dura está sendo com seu filho. No desfecho da narrativa, apesar de todas as transformações sofridas pelo núcleo em foco, todos parecem conformados com a situação e dispostos a tentar reconstruir suas vidas aceitando a condição diferenciada do protagonista.
A história apresenta pontos cômicos e traz uma edificante mensagem de convivência com as diferenças, apesar do claro enfoque nos aspectos dramáticos e polêmicos da situação repressiva e preconceituosa vivida por Ludovic, inserido em um contexto social conservador que não lhe poupa sofrimento ao privar-lhe do direito de ser aquilo que sua natureza propunha tão insistentemente.
Elenco e equipe técnica:
Michèle Laroque interpretando Hanna Fabre
Observação: Esse texto é uma análise sociológica de Minha vida em cor-de-rosa baseada nas teorias de Durkheim. O filme foi visto e debatido com a turma do primeiro semestre de jornalismo 2006.2 na UNIFOR, tendo como professora orientadora Geísa Mattos.
17 Comentários:
Às 9/02/2006 7:48 PM , Anônimo disse...
ai gente,que legal essa iniciativa!
adorei! parabéns! :)
Às 9/02/2006 10:03 PM , Wânyffer Monteiro disse...
Esse é o trabalho da minha colega ALINE FARIAS mias conhecida como musa do verão.
Vc fez 1 excelente abordagem do filme e sabe disso.
A Geísa ficaria orgulhosa d vc.
Bjão e o próximo post é meu.
[ui q medo]
ahioushaoiuhso
q;-*****
Wânyffer
Às 9/02/2006 10:33 PM , Anônimo disse...
Parabéns pela iniciativa e pelo trabalho, ficou ótimo! Seu texto, que você, Aline, acha que ficou extenso, esta ótimo, fala o que tinha que falar destacando os aspectos mais relevantes do filme e fazendo comentários bastante diretos e explicitando o objetivo do texto! Parabéns mais uma vez! \../_ _\../
Às 9/02/2006 10:55 PM , Anônimo disse...
o post anônimo foi o meu!
já começei errando! iiiihhhh!
Às 9/02/2006 10:59 PM , Anônimo disse...
e escrevendo comecei com ç
CARAMBA!
mas uma vez,muito boa a idéia!
é a primeira de muuuitas!
Às 9/02/2006 11:02 PM , Anônimo disse...
Line,
É muito bom ver você despontando como jornalista...quero acompanhar todo seu crescimento...Adorei os comentários sobre o filme...
Bjo!!!
Às 9/03/2006 9:12 AM , Anônimo disse...
Aline , meus parabéns.
Foi fantástica , você será uma ótima jornalista.
boa sorte pra vcs e tdo de bom.
Às 9/03/2006 11:55 AM , Anônimo disse...
aline...mulher...q texto!!!!
mto bem escrito,vc soube abordar o tema,sem preconceiots,escreveu sob a ótica d durkheim,e soube captar o básico do filme,o quão coagido socialmente estava o menino ludovich e sua família...
PARABÉÉÉÉÉNNNSSS
musa do verão tem tdo pra conquistar outros títulos...
;***
Às 9/03/2006 3:09 PM , Anônimo disse...
O texto tá muito bom, porém, longo demais pra uma sinopse, inclusive podendo ser evitadas algumas palavras desnecessárias que são de difícil entendimento da maioria; utilizar-se de uma linguagem mais facilitada seria o ideal.
As comparações com as teorias de Durkheim estão perfeitas. Parabéns!
Às 9/04/2006 11:26 AM , Wânyffer Monteiro disse...
Ñ é uma sinopse, mas uma análise sociológica do filme e seu resumo. A sinopse está apenas no 1º parágrafo, antes do início do texto.Mas vc n foi o único a reclamar do tamanho do texto e, quanto ao vocabulário, trabalharesmos para nos adaptar ao nosso público leitor. Suas críticas são sempre bem-vindas! Se possivel, identifique-se através do nosso email: portaljovemblog@hotmail.com, para trocarmos mais informações e crescer com suas sugestões. Aline
Às 9/04/2006 3:42 PM , CHIC-HANDSOME disse...
hello,i like picture
Às 9/05/2006 6:16 PM , Anônimo disse...
bom.. belo filme... faz tempo q vi e foi bom pra relembrar...
Às 9/07/2006 2:12 AM , Anônimo disse...
Howww....
Era pra ser a primeira....
Essa iniciativa é mto estimulante msm....
Claro q adoramos esse blog....
Ele é próprio!!È nosso galera.....
Temos msm q usufruir....
Esse filme foi mto bom...
Com ar de inocência......
Às 9/17/2006 9:00 PM , Anônimo disse...
line
parabens!!!
apesar de meio o extenso , o texto ñ está cansativo...
vc tem talento garota
bjinhus
Às 10/16/2009 9:23 AM , Unknown disse...
Olá,
Sou graduando em História da UFOP - MG e seu texto me salvou na aula de Psicologia da Educação, todos adoraram. Está de parabéns! E obrigada pela ajuda!
Elis Furlan
Às 7/10/2011 11:52 PM , Wagner disse...
Está errado! O filme data de 1997 e não 1988.
Às 2/22/2015 6:22 PM , Carol Reis disse...
Ele não era homossexual, mas sim transgênero; há uma grande diferença.
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